quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Divina Comédia...!!! Foi no banco hoje??



Eduardo, olhou se no espelho e percebeu em sua testa, ao redor dos olhos e nos cantos da boca, as marcas que lhe indicavam como os anos haviam passado. Enquanto escovava seus dentes e passava alguns cremes, lembrava como o ano de 2000 despertou especulações no pessoal de sua geração e nele também.
Quantos anos teria? Jesus voltaria? O mundo passaria por um momento escatológico? Passou aquele ano sem maiores novidades, estudou, trabalhou e aparentemente teve uma vida normal até aquela manhã chuvosa.
Pegou seu cartão pra comprar alguns legumes quando voltasse do banco. Bermudão, tênis velho, pois não encharcaria os novos que ganhou há poucos dias, uma camiseta surrada e uma blusa de moletom na mesma situação, as únicas coisas novas eram seu livro, guarda- chuva e fone de ouvido.
Olhava pras pessoas tentando imaginar as preocupações delas, seria dinheiro, sexo, filhos e suas mudanças de fase, a perseguição na escola, a menstruação que não veio, vontade de matar, de se drogar? Ao mesmo tempo admirava a imaginação, chegava às vezes a sentir pavor das pessoas, pois sabia que qualquer um poderia se tornar um perigo. Era comunicativo, no entanto, não suportava conversas idiotas, por isso, carregava sempre um livro pra onde fosse e quando tinha tempo se refugiava em diversos mundos que levava nas mãos. Ao sair da casa, a chuva caia fina e tranquila, caminhava despreocupado e realmente queria ler a vida das pessoas mas como não podia se contentava com o tempo que ficaria na fila do banco onde leria algumas páginas do romance.
Viu uma amiga que caminhava em sua direção, mas do outro lado da rua, não fez questão de vê-la, ou melhor, cumprimentá - la, ficou pensando em entrar na locadora mas sabia que demoraria e estava sem paciência. Chegando no tal calçadão onde se concentravam as lojas de biju, roupas, lanchonetes e os bancos, seu humor começou a mudar pois andavam freneticamente esbarrando umas nas outras sem o menor cuidado e empatia, e como a chuva aumentou e incomodava Eduardo colocou o capuz porque também ventava, fechou a blusa com o livro por dentro debaixo do braço esquerdo.
Quando parou em frente ao banco e fechou o guarda-chuva, por alguns segundos encarou dois policiais que acabaram de se refugiar sob uma árvore. Ao virar as costas, os policiais perceberam um volume embaixo do braço esquerdo por dentro da blusa do rapaz, ele pôs a mão na maçaneta e mal puxou a porta, um dos policiais falou pra que parasse, o outro já agitado e com a arma na mão gritou pra que Eduardo parasse, e este percebendo as pessoas olhando-o largou a porta e enfiou a mão na blusa pra pegar o livro, sem entender e assustado, virou-se pra trás e recebeu quatro tiros no peito.
Caído e com seu livro, a primeira parte de Dante Alighieri, ouve nos seus últimos segundos de vida pelo fone, o refrão de "A Marcha Fúnebre Prossegue", enquanto as pessoas com as mãos nos lábios e olhos arregalados observam o sangue dele encharcando seu livro. Jaz ali, Dudu como era conhecido por sua família: filho, esposo, pai, uma pessoa qualquer...


desculpem pelos erros, a ansiedade não me deixou corrigi-lo ... um abraço...

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