O resultado saiu, Gilberto sentado observava a multidão e o corre-corre pra pegar o jornalzinho que divulgava a relação dos aprovados do vestibular, os pais queriam que fizesse engenharia elétrica, mas ele escolheu Ciências Sociais. A mãe era dona de casa extremamente simples, no vocabulário, vestimentas e até esmo nos sonhos, se não fosse, talvez já tivesse se libertado de Jorge, pai de Gil, que durante anos oprimiu dona Amélia chegando até bater na coitada, mas ela tinha uma força ou estratégia, a manipulação, era boa nisso, principalmente quando o esposo chegava embriagado falando bobeira e se esparramando na frente da teve pra dormir como uma pedra. Não lembrava de nada no outro dia, o que dava a chance de Amélia retirar todo dinheiro que achava no bolso dele.
Jorge apesar de "alcoolista", teve uma história interessante na polícia, foi herói numa situação em que um rapaz foi sequestrado, o problema era sua perna que destruída com um balaço fez com que se aposentasse tirando-o do trabalho, a amargura o tomou quase totalmente levando-o a frequentar os bares com mais assiduidade, mas tinha seus momentos de alegria que compartilhava com a família, no entanto, sua moralidade e conservadorismo era insuportável, chegou a dar uns safanões no filho que já fumava uns baseados e vez ou outra chegava com o nariz escorrendo e muito agitado. Chegou numa época a seguir Gil até umas biqueiras pra ter certeza do consumo do filho e discutir o quanto pudesse com ele.
A proposta foi, ou você passa no vestibular e vai pra faculdade, ou casa de recuperação, Gilberto meteu a cara nos livros mas não deixou de dar suas escapadas, entrou numa faculdade em outra cidade pra ficar longe de casa e ter um pouco de liberdade como sonhava até então, não reprovou em nenhum ano, e no fim do terceiro resolveu voltar à sua cidade pra visitar os pais. Sua mãe mantinha contato pela internet, e nos últimos e-mails disse que o pai tinha parado de beber mas que continuava a sair em algumas noites e se Gil desembarcasse à noite talvez não encontrasse o pai em casa.
Jorge saiu justamente na noite em que o filho chegaria, e dona Amélia não disse nada sobre a visita do filho antes dele sair, quis fazer uma surpresa na hora que chegasse. Gil desembarcou na rodoviária e caminhando pro ponto de ônibus encontrou um colega das "antigas", o Fumaça, que logo o convence a ir numa quebrada pegar "unzinho" e como tinha colírio, não daria nada pra Gilberto quando chegasse em casa.
Os dois ficaram na frente da biqueira esperando o "vapor" voltar com o baseado, era uma rua escura e sem movimento, ao invés de nervosos, estavam tranquilos por conhecerem o lugar há tempos. Ouviram barulho de motor, e perceberam faróis altos, as pernas começaram a tremer e a vontade de correr fez o coração disparar, mas como tinham entregue a grana, resolveram esperar mesmo assim e pagar pra ver, ficaram de costas pro carro de esperariam ele passar, mas a velocidade aumentou e o automóvel para bruscamente, ouviram uma voz:
- Filhos da puta!!!! Vão aprender a viciar o filho dos outros!!!!!
Ouve-se vários disparos, e entre eles outra voz:
- Pai!! Sou eu!!!!
Jorge desesperado corre até os corpos, nas últimas noites ele não saiu pra beber mas pra deixar um rastro de dependentes e vendedores de drogas mortos em vielas e ruas escuras, e nesse momento sente sua justiça martelar seu cérebro enquanto as lágrimas se misturam ao sangue do filho, que no último suspiro diz:
- Vim te visitar pai...
Gostei bastante do texto, parabéns irmão.
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